Porque filmes de líder de torcida são prejudiciais ao esporte?

 

Todo mundo já viu pelo menos um filme adolescente envolvendo líderes de torcida. De certa forma, todos eles são iguais, seguem a mesma fórmula de roteiro. São engraçados e divertidos, e a grande maioria das meninas queria ser uma cheerleader quando era criança, por causa deles. 

Mas então porque esses filmes prejudicam tanto assim o esporte?

A resposta é simples: imagem. 

Esses filmes passam uma imagem distorcida do cheerleading, de certa forma, uma caricatura exagerada do esporte, afinal, o gênero deles é comédia, então tem que ser engraçado. O problema é que, para a grande maioria dos brasileiros, estes filmes são a única fonte de informação sobre o esporte, e quem assiste acaba acreditando que essas piadas são a realidade, por mais erradas que elas estejam. 

Vou dar um exemplo:

TODOS os filmes deste gênero batem na mesma tecla: a aparência. 
Existe um pré-requisito estético para ser líder de torcida, e você é obrigada a se encaixar em determinado padrão de beleza. Precisa ser magra, loira, gostosa e perfeitamente vestida e maquiada.

Em um dos filmes da franquia "As Apimentadas", as meninas pressionam a capitã para retirar uma menina da equipe, por estar muito gorda, sendo que ela tinha engordado apenas um quilo e tinha o corpo perfeitamente atlético.

Em outro filme da mesma franquia, uma das meninas diz que "a bunda dela é motivo suficiente para ser anoréxica". A menina para de comer durante a temporada, para tentar perder peso e permanecer na equipe. 

Além disso, a maioria dos filmes de líder de torcida resumem o cheerleading a torcer pros colegas e danças com pompons, apenas. 
Como resultado, a maioria das pessoas desta geração cresceu "sabendo" que nunca poderia ser cheerleader se não se encaixasse naquele padrão, e que ser líder de torcida é uma prática sexista, já que o único objetivo é ser bonita e rebolar de saia curta enquanto os atletas de verdade estão jogando. 

Cheerleading  é um esporte de risco, competitivo, reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional. Cheerleaders são atletas, não modelos, e não existe um padrão físico e muito menos estético para participar de uma equipe, assim como em qualquer outro esporte. Existem atletas de todos os biotipos, tanto homens quanto mulheres.

Além disso, atletas de cheerleading competitivo NÃO TORCEM para outros esportes, quem faz isso são integrantes de equipes "Sideline", e a maioria das equipes no Brasil nem tem essa função. 

Mas como isso pode ser prejudicial ao esporte?

Porque os dois maiores problemas que os atletas brasileiros enfrentam são a falta de atletas e a falta de verba. E as duas coisas são diretamente relacionadas ao estereótipo que o esporte absorveu por causa dessa imagem. 

É muito difícil encontrar atletas novos, pois as pessoas que quereriam participar, normalmente acham que não servem pra isso, por não se encaixarem nos requisitos estéticos que nem existem no esporte. 
As pessoas que não tem esse problema, não querem participar porque acham que é só balançar pompons e torcer pra macho, e não tem interesse.
Meninos não querem participar porque acham que é coisa de mulher, ou de gays. 
E pais não querem deixar as filhas participarem, porque acham que é coisa de puta. 

Tudo por causa de uma imagem sexualizada e ofensiva do esporte, que nos foi passada desde a infância, e que criou um estereótipo muito difícil de desconstruir. 

E o dinheiro? Onde entra?

É muito difícil conseguir patrocínio, quando a maioria dos possíveis patrocinadores não acredita que cheerleading é um esporte. A maioria das equipes precisa tirar dinheiro do próprio bolso, fazer rifas, pedir dinheiro na sinaleira ou arrecadar de outras formas pra participar de campeonatos, por falta de apoio, tanto governamental quanto de empresas privadas. 

É muito importante ressaltar que a culpa NÃO É dos filmes, e sim do fato do nosso esporte não ter visibilidade nenhuma no nosso país, fazendo com que estes filmes sejam a única fonte de informação pra maioria das pessoas. 

Em 2020, a Netflix fez um serviço IMPECÁVEL, produzindo um documentário sobre o Cheerleading, acompanhando os treinos de uma equipe universitária durante uma temporada. A série se chama CHEER, e é maravilhosa. 

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